terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Memórias Inacabadas II

 A vida sempre passara-lhe aos olhos, Covardia, talvez. No entanto, o medo fora o responsável por insensata atitude. Vivia entre o assombro do passado e a incerteza do porvir. Na reação física natural de luta ou fuga preferia não fazer escolha, ficar sem ação, inerte e passivo ao acaso. Ah! O acaso, este que levou-lhe sonhos, amores e a própria existencia. Deixou-se levar pela vida, chegando a lugar nenhum.

Embarcara numa viagem no tempo à bordo de si mesmo. Tentou dormir, o que nesse caso, é a pior escolha; na verdade queria dormir e não acordar. Quando, enfim, teria um momento de ousadia, queria fugir. Na luta onde era o único competidor, a possibilidade de derrota trazia-lhe, mais uma vez, o medo; sentimento que o definia.

A muito custo conseguiu adormecer. A luz do sol entrava pela janela, que na noite anterior servira para trazer lamento, agora penetrada por raios de um novo dia que anunciavam um lampejo de esperança. Levantou-se ainda com a mente tomada pelos acontecimentos que quase o impediram de dormir. Cumpriu o ritual matinal; tomou banho e preparou o café.

Enquanto saboreava sua bebida preferida, correu no quarto e pegou um velho caderno que estava debaixo do colchão, onde há tempos escrevia alguns pensamentos. Arrancou um pedaço da última folha e escreveu:

''Não quero que no futuro o passado me acuse por ter perdido você''.

Dobrou-o e enfiou no bolso. Bebendo o último gole de café, saiu com a certeza que devia dizer o que escreveu no papel a alguém. Era a primeira vez que optou por lutar, invés de fugir.


Leia:
Memórias Inacabadas
Memórias Inacabadas - Final 

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