terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Memórias Inacabadas

- Malditas lembranças, me deixem em paz. - gritou em tanto desespero que sua voz ecoou pela mente atormentada por flashbacks que insistiam em lembrar-lhe de atos e fatos de um passado remoto.
 
Levantou-se e abriu a janela do quarto que ficava no 11° andar; acreditava que seus opressores saíriam pela fresta aberta. Enganou-se. O vento frio e suave da madrugada entrara descobrindo suas garras e ferindo-lhe com remorsos e acusações. A cada golpe deferido, uma lágrima fajuta e inútil se misturava com gotas de suor do cansaço de uma luta infindável e desleal. Com sacrifício fechou a brecha que abrira; mas a batalha ainda não havia acabado. Em seu íntimo, memórias destruiam sonhos pré-maturos; os mais desenvolvidos e ousados resistiam em sobrevivência.

- Um dia fui como vocês, sonhos infelizes. Agora vejam o que sou, apenas uma memória presa no pretérito. O resto do que foi ideal, a sombra de um desejo, que por não sei por qual motivo, não foi alcançado. É o que serão no futuro, o passado de um presente mal vivido.

Abriu a torneira e afundou a cabeça na pia do banheiro. A água estava gelada o bastante para esfriar a efervescência de pensamentos; porém, foi incapaz de impedir que o espelho lhe trouxesse de volta à erupção do vulcão cujo a lava feria-lhe a alma. Mirava fixamente dentro de seus olhos  e via cenas do que não foi, do que não fez, do que poderia ter sido, do que poderia ter feito... imagens do que não viveu, fotos daqueles que deixou ir e daqueles que impediu de vir.

Sentado ao pé da cama, fraco e cansado, quis esquecer-se do acontecido e trancar-se novamente no porão de sua alma. Pensou se, talvez, coragem fosse seu adjetivo, assim como Caráx que voltara ao pretérito para queimar sua história, faria o mesmo.

Pobre homem, não sabe que matar o passado é suicídio. Infelizmente, ou felizmente, não é dado ao homem o poder de voltar no tempo.


Leia:
Memórias Inacabadas II
Memórias Inacabadas - Final 

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