sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Você vive pra quem?

Urgh! Onze ainda, hoje chega meia-noite mas não chega meio-dia. Impressionante como o único dia em que sairei mais cedo do escritório, diga-se de passagem o último do ano, demora tanto pra passar. Só mais sessenta minutos, e enfim, merecidas férias. Onze e trinta; olho pela ampla janela e vejo que a cidade já é um verdadeiro set de cidade fantasma dos filmes de faroeste. Pouco movimento, pouco barulho, pouca paciência; ainda faltam trinta minutos.

Onze e quarenta; Arrumo minha mesa. Processos, pastas, arquivos, papéis, papéis e mais papéis. Meu primeiro ano como advogado foi honroso, grandes feitos, sem nenhuma causa perdida. Doze horas; Já não era sem tempo.

No carro, o player toca Epitáfio, Titãs. São apenas sete quilômetros até chegar ao apartamento, meu lar, meu santuário. Subi até o 11° andar pelo elevador; abro a porta, vou direto pro quarto e desabo na cama. Confesso, sou cético quanto a essas simpatias que fazem nessa época. Não acredito que a cor da roupa, ou comer uvas, lentilhas ou sei lá o quê, trará um bom ano. A felicidade depende do meu esforço para alcançá-la.

Não faço listas extensas de promessas a serem cumpridas que não vou cumprir. Prefiro viver, apenas. Inevitavelmente me veio no pensamento tudo que me aconteceu neste ano. Conclui o curso universitário, consegui bom emprego, na verdade, sou o advogado mais promissor da cidade. Tenho carro, apartamento, conta bancária cofortável. De fato, moro sozinho, porém, por minha competência pude realizar o sonho de meus pais; um sítio numa cidadezinha tranquila do interior.

Sem aviso prévio, começa a chover. Ah! olhar a chuva pela janela é meu hobby favorito. Chego mais perto, abro a persiana e destranco-a. Sentir os pingos d'água no rosto é como ser renovado pelo céu. Olho pra baixo e vejo uma mulher correndo procurando onde se abrigar. Fico de cima a observá-la. Nesse tempo, outra vez as minhas realizações tomam a mente, pretendo fazer coisas maiores no novo ano, sem promessas.

Volto a observar a mulher. A chuva engrossara, molhando-a, uma vez que conseguiu proteção debaixo de uma árvore. Ela desistiu do abrigo e se encontrava sentada na calçada. Tomado por um ímpeto que não sei de onde veio, abri a a porta rapidamente; corri pelas escadas com a esperança de ainda encontrá-la molhada, desamparada, desprotegida.

Óh céus! Estava lá, no meu íntimo, algo me dizia que estava me esperando. Abraçei-a intensamente e disse àquela desconhecida:

- Perdoe-me, fui um mal garoto; só vivi pra mim, pra satisfazer meus sonhos e planos egoístas. Quero viver pra você, me deixa fazer-te feliz.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Cordilheira - Daniel Galera

O primeiro contato que tive com as obras de Daniel Galera foi o livro Mãos de Cavalo. Este, estava na lista de livros para o vestibular 2011/1 da Universidade Federal de Goiás, acompanhando grandes clássicos da literatura brasileira como, Memórias de Um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida), O Demônio Familiar (José de Alencar) e I-Juca Pirama (Gonçalves Dias).

Ao contrário destes verdadeiros mitos literários que à príncipio não geram grande interesse no leitor casual, Mãos de Cavalo, além de ter linguagem próxima da oralidade do cotidiano,  a temática do livro é a busca por identidade. "Até que ponto é possível decidir como queremos ser e que imagem os outros terão de nós? Talvez definir isso racionalmente seja tão inviável quanto decidir se queremos ou não amar uma determinada pessoa." diz o autor. Características que tornam a obra mais atrativa ao, por exemplo, leitor de ônibus, que entre uma viagem e outra procura uma leitura mais fácil e simples, o que não tira a qualidade do livro.

Buscando mais títulos de Galera, encontrei o Cordilheira.

SINOPSE: Recém-saída de um relacionamento amoroso e ainda sob impacto do suicídio de uma amiga, uma escritora resolve aproveitar o lançamento da tradução argentina de seu romance, considerado pelo público e pela crítica uma das melhores surpresas da nova literatura brasileira, para passar uma temporada em Buenos Aires.

Cordilheira gira em torno de um recomeço: ao se envolver com um misterioso fã argentino e conviver com seus amigos de hábitos bizarros, a protagonista começa a deixar o passado para trás e a se tornar algo que ainda não sabe bem o que é. Além de uma história de perdas, encontros e desencontros, Cordilheira também é uma reflexão sobre vida e arte, seus limites nem sempre definidos e a maneira como essa sobreposição, em meio aos sonhos e impasses de quem cedo ou tarde precisará enfrentar a realidade, pode acabar mudando os destinos individuais.

Com certeza Cordilheira estará na minha lista de Livros 2011, e claro, Mãos de Cavalo (outra vez =P)

Título: Cordilheira
Autor: Daniel Galera
Ano: 2008
Páginas:  176

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Memórias Inacabadas

- Malditas lembranças, me deixem em paz. - gritou em tanto desespero que sua voz ecoou pela mente atormentada por flashbacks que insistiam em lembrar-lhe de atos e fatos de um passado remoto.
 
Levantou-se e abriu a janela do quarto que ficava no 11° andar; acreditava que seus opressores saíriam pela fresta aberta. Enganou-se. O vento frio e suave da madrugada entrara descobrindo suas garras e ferindo-lhe com remorsos e acusações. A cada golpe deferido, uma lágrima fajuta e inútil se misturava com gotas de suor do cansaço de uma luta infindável e desleal. Com sacrifício fechou a brecha que abrira; mas a batalha ainda não havia acabado. Em seu íntimo, memórias destruiam sonhos pré-maturos; os mais desenvolvidos e ousados resistiam em sobrevivência.

- Um dia fui como vocês, sonhos infelizes. Agora vejam o que sou, apenas uma memória presa no pretérito. O resto do que foi ideal, a sombra de um desejo, que por não sei por qual motivo, não foi alcançado. É o que serão no futuro, o passado de um presente mal vivido.

Abriu a torneira e afundou a cabeça na pia do banheiro. A água estava gelada o bastante para esfriar a efervescência de pensamentos; porém, foi incapaz de impedir que o espelho lhe trouxesse de volta à erupção do vulcão cujo a lava feria-lhe a alma. Mirava fixamente dentro de seus olhos  e via cenas do que não foi, do que não fez, do que poderia ter sido, do que poderia ter feito... imagens do que não viveu, fotos daqueles que deixou ir e daqueles que impediu de vir.

Sentado ao pé da cama, fraco e cansado, quis esquecer-se do acontecido e trancar-se novamente no porão de sua alma. Pensou se, talvez, coragem fosse seu adjetivo, assim como Caráx que voltara ao pretérito para queimar sua história, faria o mesmo.

Pobre homem, não sabe que matar o passado é suicídio. Infelizmente, ou felizmente, não é dado ao homem o poder de voltar no tempo.


Leia:
Memórias Inacabadas II
Memórias Inacabadas - Final 

domingo, 26 de dezembro de 2010

Natal, esperança e Jesus.


Não vou falar mal do natal. Não comentarei sua origem pagã, nem seu apelo consumista e frenético por bens duráveis e não-duráveis que camuflam a dureza de corações duramente hipócritas. Não direi que um dia de boas ações compensa trezentos e sessenta e quatro de insolidariedade e desprezo.
Sendo apenas vinte e quatro horas de humanização de seres que, racionalmente, se odeiam, se destroem e se matam; mesmo assim esse único dia, como o primeiro sinal da alvorada, faz renascer a esperança que caminhava em passos fúnebres em direção a lápide.


Em Belém, uma estrela azul conduziu três homens ao caminho daquele que é o caminho para a redenção da alma. Numa manjedoura em meio a animais raiou a esperança. Humilde e simples esperança. Presenteá-la? Não seria necessário. Veio para se dar, não para receber. Esteve aqui para resgatar o que sempre lhe pertenceu desde antes do genêsis. Ensinou nos o amor, sendo a própria o perfeito amor que crê, sofre, suporta, espera e nunca desiste. Trouxe de volta o brilho para os olhos dos oprimidos, o sorriso nos lábios dos que outrora choravam.


É a luz no fim do túnel que ilumina vidas sem vida para um recomeço. É o sentimento que faz crianças acreditarem que há um lugar secreto e, neste lugar, apenas o que são basta para serem felizes. É o que faz crer que a humanidade não está perdida em seus atalhos mal construídos; que há salvação.


Natal é esperança. Jesus Cristo é a esperança.